Apesar de já estar consolidada em várias empresas, a área de inteligência de mercado ainda carrega certo mistério para alguns profissionais: é marketing? É data science? É para o publicitário? É para o matemático? É tudo isso misturado?
Para tentar clarear as ideias de quem pretende migrar para a IM, independente de ser júnior ou sênior, conversamos com Caio Montagner e Daniela Benetti, profissionais da área e professores da Live University. Eles responderam como montar uma boa equipe de inteligência de mercado, o que os profissionais precisam saber para entrar nesse mundo e quais são as suas expectativas para o futuro da área. Confira!
Caio Montagner (Diretor Comercial da RE/MAX Xavante e Professor da Live University) - Do ponto de vista de recrutamento, é necessário entender que problemas a empresa quer resolver primeiro. Ao fazê-lo, será possível entender as habilidades necessárias a se caçar no mercado. Mas, sem dúvida, o time (ou profissional sozinho) escolhido precisa ter, além de técnica, um perfil comprometido, investigativo e honesto.
Inteligência de Mercado trabalha seguindo um ciclo que envolve coleta e análise para disseminação de conclusões. Alguém que congregue essas características terá diligência e evitará divulgar conclusões precipitadas ou vinculadas a uma agenda pessoal.
É como dizemos na RE/MAX: escolha caráter, habilidades podem ser ensinadas. A montagem do time derivará, depois desta regra, dos tópicos chave que as rotinas de inteligência entregarão. Muitas vezes os desafios são mais qualitativos ou envolvem coletas via elicitação e este mundo demandará perfis mais sinestésicos. Outros problemas demandarão um mestre em Python conectado com as últimas publicações acadêmicas.
Daniela Benetti (Sócia-fundadora da Maena Inteligência Analítica e Professora da Live University) - O mais importante é a gente entender qual é o escopo de trabalho, qual é a expectativa com relação àquela área, quais são os entregáveis da área, para o que ela serve e também o que se espera de cada membro daquela.
A gente está falando de uma área que vai ter analistas? Estagiários? Qual que é o papel de cada um deles? Eu acho que essa definição dos papéis é fundamental para garantir a eficácia da área de inteligência de mercado. A gente garante que todas as necessidades estarão sendo atendidas por profissionais qualificados, elimina as sobreposições de tarefas. Então, o mais importante para montar essa área é entender essa questão dos papéis, tanto da área quanto dos profissionais.
Caio Montagner - Os perfis e competências também derivam dos problemas da companhia. Mas para ter sucesso é determinante inteligência lógica e social. O trabalho é, sim, investigativo e muitas vezes estatístico-matemático, mas é sempre de disseminação. E saber disseminar é saber tirar do stakeholder a verdadeira dor dele e ter tino para se fazer entendido e promover as recomendações de inteligência de forma eficaz.
Daniela Benetti - Em termos de habilidade, eu costumo dizer que o profissional de inteligência de mercado tem que ser um cara curioso, que não aceita as coisas como são, que se dedica e que precisa entender de onde as coisas vêm e porque são assim.
Essa característica da curiosidade eu acho que ela é importante porque a gente trabalha o tempo inteiro formulando perguntas e buscando respostas.
Esse ar investigativo ele é importante. Outra habilidade superimportante tem a ver com a comunicação, a capacidade dele se comunicar bem, se expressar bem e se relacionar bem junto aos diferentes níveis dentro de uma organização.
Uma hora a gente vai fazer algum trabalho vai exigir investigação, entrevistar pessoas mais operacionais, outra hora a gente vai precisar entrevistar pessoas de níveis mais gerenciais. A gente precisa ter condição de conversar e navegar entre todos os níveis hierárquicos, com firmeza, com postura e com segurança.
E eu entendo que o profissional de inteligência de mercado também tem que ser um cara com raciocínio lógico. Essa capacidade de analisar dados de diferentes naturezas, entender, conseguir fazer os cruzamentos das informações e transformar isso em decisão de negócio ou em recomendação para os negócios é superimportante. Claro que facilita se a gente tiver desenvolvido uma competência de manipulação de bases de dados, uma competência de disseminação, de apresentar as informações em relatórios, apresentações ou planilhas que sejam eficientes.
Caio Montagner - Em alguns anos, com a chuva de dados que se prostram a disposição para análise, o profissional de inteligência vai não só ser mais útil, como outros profissionais irão conduzir nosso ciclo de melhoria contínua nas entregas das companhias. Vendedores, gestores, administradores e outros precisarão ter mais precisão em suas análises e a escola de Inteligência de Mercado propõe o raciocínio em um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo.
Daniela Benetti - A área de inteligência de mercado ela vai ter que se transformar um pouquinho, ela vai ter que se reinventar. A gente tem a inteligência artificial numa crescente muito grande, a ponto de minimizar a necessidade do ser humano num processo de coleta de informações e até no processo de tomada de decisão, porque algumas decisões elas vão poder ser criadas por meio de regras de negócio.
Eu acho que a área de inteligência de mercado daqui um tempo vai ser muito mais voltada a análises e recomendações do que em atividades operacionais A capacidade de traçar estratégias, de identificar problemas ela ainda assim vai estar lá dentro do ser humano. É ele quem consegue olhar para o negócio.