Trabalhar num escritório, ainda é algo bem comum para a maioria das empresas. Porém, é crescente o número de profissionais que olham com bons olhos para as alternativas de ambientes de trabalho que surgiram nos últimos anos.
Tem quem prefira o lugar mais acolhedor e familiar que ele conhece: a própria casa. Porém, aqui no Brasil, esta alternativa ainda é mais um desejo que uma realidade. Segundo pesquisa divulgada pelo Ibope em junho do ano passado, 62% acreditam que um ambiente de trabalho moderno não existe sem a possibilidade de poder trabalhar em casa. Entretanto, 53% dos entrevistados nunca tiveram essa oportunidade em suas empresas.
Um outro modelo que tem se tornado cada vez mais comum nas grandes capitais é o coworking. Trata-se de um local em que várias empresas compartilham do mesmo ambiente para desenvolver suas atividades. Segundo o Censo Coworking 2018, feito pelo site Coworking Brasil, existem 1194 espaços compartilhados em 169 cidades brasileiras. São Paulo é líder absoluta neste modelo de escritório, com 273 destes espaços espalhados pela cidade.
Quem costuma ter maior liberdade para escolher entre cada um desses espaços são freelancers, empreendedores ou startups. A questão econômica é a que mais pesa para ambos os casos, porém são as necessidades de cada um que devem ser levadas em conta na hora de escolher um ou outro modelo. A questão da qualidade de vida, da comodidade são fatores essenciais para quem opta pelo trabalho em casa. Por outro lado, é a necessidade de networking e de espaços como salas para reuniões com clientes que motivam o profissional a migrar para um coworking.
A escolha sobre qual o melhor ambiente depende de uma análise feita pela própria empresa ou profissional. Neste processo, deve-se levar em conta a sua cultura, suas necessidades e também sua realidade financeira. Mas é sempre bom conhecer o que tanto o coworking quanto o home-office tem de favorável e assim montar sua própria lista de prós e contras. Por isso, a Live University conversou com com dois profissionais que trabalham e defendem cada um desses modelos.
Jeniffer Medeiros é Community Manager na Hub/SP, um Centro de Inovação para startups nas proximidades da USP, na capital paulista. Seu trabalho é justamente o de fomentar o clima de comunidade entre os profissionais que atuam no coworking.
Já Pedro Custódio trabalhou nos lugares mais tradicionais para quem atua na área jurídica: banco, tribunal de justiça, ministério público, escritórios de advocacia... Porém, desde 2017, ele passou a trabalhar na sua própria casa e passou a se definir como “um advogado que carrega o escritório na mochila”, além de escrever conteúdo para outros advogados que também querem trabalhar de forma autônoma.
Confira quais são as vantagens de cada um dos ambientes segundo os nossos entrevistados:
Jeniffer Medeiros: Conforto, para mim, é muito maior nos espaços de coworking porque há uma preocupação com ergonomia, salas de descompressão, salas de reunião confortáveis, infraestrutura de ar condicionado. É muito difícil você ir a um coworking e essas coisas serem ruins. Esses são pontos de atenção de qualquer um desses espaços, ter uma estrutura mínima de cadeiras bacanas para você trabalhar o dia todo, salas confortáveis para longas reuniões, o ar e a internet sempre funcionando. As empresas grandes, por terem muita gente para tomar conta, não olham tanto para esses detalhes.
Pedro Custódio: Acho que um dos maiores atrativos para alguém querer trabalhar em casa é justamente o conforto. Trabalhando em casa, posso acordar quando quiser, ouvir uma boa música em vez daquela buzinada no trânsito logo pela manhã e dar uma pausa para descanso enquanto rego uma planta ou assisto a algum episódio dos meus seriados na Netflix. Não tem ninguém me fiscalizando. E o melhor, aquele frio na barriga quando começa o Fantástico no domingo sumiu há muito tempo!
Jeniffer Medeiros: Uma empresa, quando vai alugar uma sala comercial num prédio, ela banca tudo sozinha. No coworking, esses custos com energia e internet, por exemplo, são todos compartilhados e sai muito mais barato.
Pedro Custódio: Não é novidade pra ninguém. Montar – e manter – um escritório é caro: aluguel, internet, linha telefônica, energia e as despesas com funcionário – isso contando que você vai ter apenas uma secretária. Agora coloca também o investimento inicial para comprar os móveis, equipamentos necessários e decoração para deixar tudo bonitinho.
Trabalhar em casa me poupou de todos esses gastos. Quando realmente necessita, marco uma videoconferência com o cliente ou utilizo espaços compartilhados, como coworking ou cafés, onde pago por hora. Fica bem mais barato do que um aluguel, com certeza!
Jeniffer Medeiros: Uma infraestrutura mínima de um coworking é o mobiliado, o ar condicionado, uma internet que funcione, cafezinho. É o mínimo que todo cowork oferece e que muitas empresas não oferecem. Já passei por empresas que não tinha sala para fazer reunião. Até tinha, mas eram duas para 800 funcionários. E isso gerava uma briga constante. Então eu vejo que, em termos de infraestrutura, um coworking é muito mais organizado e funcional.
Pedro Custódio: Geralmente já temos em casa as coisas básicas para trabalhar. Levando em conta as minhas atividades de advogado, preciso de uma mesa pequena, uma cadeira confortável, um notebook, meu smartphone e uma conexão com a internet. Esses itens cabem numa mochila e posso levá-los comigo para qualquer lugar e fazer de qualquer lugar o meu local de trabalho.
Jeniffer Medeiros: Este é o grande diferencial. O coworking une pessoas com objetivos em comum e o networking acontece a todo o momento. Hoje você está sentado ao lado de uma pessoa e amanhã será outra.
Já vi acontecer muito uma pessoa estar há horas tentando desenvolver um código ou uma peça de design e, nos cinco minutos que ela sai da sua posição, vai tomar um café, acaba encontrando outra pessoa e pede uma opinião, vê algo que não tinha pensado ainda, volta para o seu lugar e resolve tudo.
O coworking permite conhecer pessoas novas e, mais do que isso, há a possibilidade de geração de negócios entre as pessoas que trabalham e frequentam aquele espaço. Se não há esse networking, é melhor alugar uma sala sozinho.
Pedro Custódio: Quando trabalhamos em casa temos a tendência de ficar mais “isolados”, o que acaba sendo uma desvantagem. Mas isso pode ser facilmente resolvido saindo de casa algumas vezes na semana eou trabalhando em algum local público, como cafés e coworkings. Muita gente frequenta esses lugares e é ótimo para conhecer pessoas.
No meu caso, além de trabalhar em casa, moro num sítio, o que dificulta um pouco o deslocamento. O que faço para contornar isso é investir na minha presença online, interagindo com pessoas nas redes profissionais, principalmente no JusBrasil e no LinkedIn. Tem muita gente legal por lá e são espaços ótimos para falar mais do meu trabalho.
Jeniffer Medeiros: A produtividade aumenta porque o ambiente propicia a concentração. Segundo uma pesquisa feita nos Estados Unidos, 64% dos coworkers se tornaram mais capazes de completar suas tarefas no prazo. Coworks que fazem mesmo a gestão do espaço e gera uma comunidade ganha em produtividade porque o pessoal se ajuda, eles colocam metas mensais, semanais, há um café de alinhamento no começo da semana para definir as metas da semana e outra no fim para ver o que rolou ou não.
Pedro Custódio: Trabalhar em casa, às vezes, pode ser um grande vilão para a produtividade. Afinal, não ter que “bater cartão” pode deixar nosso nível de comprometimento um pouco mais baixo. Aí que entra a disciplina. Apesar da possibilidade de acordar mais tarde, acordo cedo todos os dias, às 5h da manhã. É um hábito que tem dado muito certo pra mim e me ajudou a ganhar tempo para diversas coisas, como ler mais e estudar.
Enquanto a maioria das pessoas ainda está se preparando para sair de casa rumo ao trabalho, já fiz uma porção de coisas interessantes e úteis para mim. Isso é muito produtivo.
Jeniffer Medeiros: Todos os espaços que eu frequento pensam na qualidade de vida. Há momentos para meditação, há espaço de descompressão para tirar um cochilo, uma relaxada. No Hub/SP há massagem nas sextas-feiras, campeonatos de ping-pong, happy hour e estamos propondo yoga. A gente se preocupa com um todo.
Pedro Custódio: Há uma palavra antiga e muito conhecida, que mina a nossa qualidade de vida: stress. Trabalhar em home office significa não ter que pegar trânsito, não ter horários fixos, não ter chefe por perto fazendo cobranças, muito menos contato com fofocas e pessoas tóxicas que tiram a nossa paz.
Acordar, tomar um banho, me exercitar e, depois de um prolongado café, começar a trabalhar, deixa o meu dia menos agitado, mais leve e sob controle, o que me dá muita, mas muita, qualidade de vida.
Já conhecemos as vantagens do coworking e de se trabalhar em casa e já entendemos que ambos os modelos trazem ótimos benefícios para as empresas e profissionais. Isso significa que o modelo de escritórios como estamos acostumados está com seus dias contados. Para a community manager do Hub/SP, sim!
“Não tenho duvidas que sim! Hubs e coworkings já estão em alta e valendo milhões. Quanto mais as empresas verem o que esses espaços proporcionam, mais vão migrar. O futuro é colaborativo, e o segmento imobiliário não vai ficar de fora. O coworking propicia o trabalho compartilhado, a sinergia. Se você coloca junto um monte de empresa que não quer crescer junto, melhor trabalhar individualmente. Um cowork só como espaço não vale nada”, acredita Jeniffer.
Pedro, por outro lado, não acha que a nossa própria casa será o ambiente de trabalho do futuro, até porque o estilo de vida de cada profissional é um fator que pesa muito na avaliação da sua produtividade ao trabalhar com home-office.
“Tem muita gente que gosta da vida agitada, de sair de casa para trabalhar e de estar num ambiente corporativo. Há outras pessoas que já tentaram desenvolver suas atividades em casa, mas não conseguiram justamente por causa das distrações e da baixa produtividade. Acho que trabalhar em home office, embora seja uma possibilidade muito real, vai do estilo de vida de cada um e do objetivo de cada empresa ou atividade”, afirma o advogado.