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Quando os dados não são dados

Written by Bruno Soares | Jul 27, 2022 3:08:03 PM

Fontes de informações e dúvidas corriqueiras – Vez ou outra me perguntam como conseguimos trabalhar com o monitoramento de informações em mercados não estruturados.

Perguntas ou afirmações do tipo: Isso é espionagem? Como é realizada a coleta da informação? É de forma lícita ou ilícita? Usaram fontes privilegiadas, espionagem ou acesso pago? Afirmações do tipo: “É impossível conseguir esta informação, só o presidente ou diretor sabe ou possui acesso a esse tipo de conteúdo”, ou “ninguém tem acesso”, entre outras, são costumeiras.

No dia a dia da Intelligence Hub temos inúmeros casos que demonstram o contrário do ditado popular “algumas palavras se tornam verdade de tanto que repetimos”. Tais casos nos mostram que no mundo real e empresarial nem sempre o que escutamos ou ouvimos, e até mesmo afirmamos, são verdades absolutas.

Algumas empresas que acessamos atuam em ambientes de mercado não regulados. Um dos desafios comuns a estas empresas é desenvolver uma disciplina de monitoramento em um mercado onde dados não são dados. Os analistas sofrem.

A função de monitoramento de variáveis não controláveis e que estão fora do ambiente interno forçam com que estas empresas desenvolvam meios bem criativos de monitorar seus mercados, demonstrando o valor tangível e tático da função da inteligência.

Há um entendimento por parte de nossa empresa que a atividade de inteligência encapsulada em uma função empresarial tem como objetivo ajudar as empresas a conquistar e manter uma posição de vantagem competitiva em seus mercados, monitorando, capturando e analisando informações, estejam onde estiverem –  e não menos importante – apontando ações e acompanhando-as (em muitos casos executando-as).

Entendemos ainda que existe método para monitorar informações não estruturadas, produzidas externamente à organização, sem qualquer tipo de tratamento e que, na maioria das vezes, não estão sistematizadas ou filtradas. Para tanto, é necessário período de planejamento com o objetivo de mapear as necessidades da organização, visando a estruturação de uma atividade de monitoramento sistemática, a seleção e filtragem de dados, buscando eventualmente informação e conhecimento existentes fora da organização.

Nortear o que se quer é fator crítico para qualquer atividade.

O CASO DA MONITORIA DE FRAUDES

O caso em questão aborda a monitoria de informações em mercados que tratam da ilegalidade, reconhecidos pela informalidade inerente a sua atividade e a dificuldade de monitoria. Quase todos nós já sofremos uma situação de fraude ou conhecemos alguém que passou por isso. No cliente em questão, player do segmento financeiro, foi identificada a necessidade de monitoramento das atividades de fraude bancária de uma maneira geral, focando em termos como segurança bancária, lavagem de dinheiro, assaltos a carro-forte, quadrilhas de clonagem de cartões de crédito, entre outros, em todo território nacional.

O desafio da abrangência geográfica, aliado a inúmeras possibilidades, já se apresentava espinhoso em seu nascedouro. 

Além disso, agregado ao processo de identificação de necessidade de inteligência da empresa, outro ponto crucial foi entender como estas informações eram coletadas, consumidas e disseminadas. Verificou-se que colaboradores da instituição financeira recebiam boletins ou informações aleatórias, muitas vezes sem foco no assunto de interesse.

A falta de acompanhamento sistemático e focado ocasionava, por fim, a incapacidade de antecipação a fatos relevantes e, até mesmo, a dificuldade de reação.

AGRUPANDO OS TIJOLOS E CONSTRUINDO O SEU MODELO DE ANÁLISE

Outro ponto que chamou a atenção foi a construção de uma base para análise quantitativa das informações de cunho noticioso – informações que chamamos de não estruturadas.

A construção prévia e padronizada de um modelo que pudesse suportar um grande volume de informações sobre o mercado foi decisivo para o desenvolvimento posterior do modelo de análise a ser utilizado pela empresa.

SEGREDINHO: O segredo da eficiência dos resultados de busca foi transformar expressões encontradas nos textos e notícias em variáveis que pudessem ser quantificáveis, ou seja, localização geográfica como UF, município e bairro, tipologia de fraude e grupo, nome(s) do(s) envolvido(s), data do incidente, instituição financeira, entre outras variáveis.

Com base nos itens acima mencionados, a partir de um determinado período de tempo, a instituição financeira começou a alimentar sistematicamente uma base de informações riquíssima sobre um mercado onde há pouca ou quase nenhuma informação estruturada e que até pouco tempo era um mercado considerado de difícil acesso do ponto de vista do monitoramento e classificação da informação, simplesmente estabelecendo um processo de monitoria estruturado e focado nas necessidades da organização, e que contemplasse a análise de itens como:

  1. Dias do mês e dias da semana que mais ocorrem incidentes;
  2. Horários que mais ocorrem incidentes;
  3. Quais tipos de incidentes mais ocorrem;
  4. Relacionar os incidentes ocorridos com as cidades, bairros e estados;
  5. Análise da quantidade de pessoas envolvidas em determinados incidentes;
  6. Palavras-chaves mais encontradas nas notícias capturadas;
  7. Comparação mensal dos incidentes que ocorreram;
  8. Bancos em que mais sofreram ocorrências;
  9. Quantidade de notícias em que o nome dos envolvidos foram divulgadas;
  10. Fontes que mais foram encontradas notícias relevantes.

ENFIM OS BENEFÍCIOS PERCEBIDOS

Além dos itens de análise citados acima, alguns benefícios mapeados incluíram:

  1. Monitoria de mudanças ou novas aplicações de fraudes possibilitando agir de maneira mais preventiva que reativa.
  2. A manutenção de um alto nível de atualização referente ao que é divulgado na mídia sobre os temas de interesse da área, principalmente quando se relacionam a marca da empresa.
  3. A extração e atualização contínua de nomes de envolvidos em crimes ou fraudes para inclusão em uma lista negra de empresa.

Desta forma, me parece claro que quando há uma diretriz e orientação por parte da empresa sobre os itens que se deve monitorar, há também ainda um bom entendimento pelos interlocutores sobre o seu negócio de atuação e há o uso da criatividade por meio de métodos e algum suporte de tecnologia – empresas podem desenvolver e aplicar seus processos de monitoria em mercados onde dados não são dados e, mais do que isso, usufruir dos benefícios.

Mãos à obra!

É a nossa inteligência competitiva, para a sua vantagem competitiva.

Grande abraço,

Nícolas Yamagata

nicolas.yamagata@intelligencehub.com.br