Passividade. Essa é a palavra que define boa parte do que conhecemos sobre o processo de aprendizado. Até agora.
Aprenda mais rápido e surpreenda-se com a andragogia!
Quando pequenos nos colocaram em uniformes e carteiras enfileiradas para nos apresentar a um modelo pedagógico em que o professor tinha total responsabilidade sobre as atividades educacionais. Preparar o conteúdo, aplicar os ensinamentos e avaliar o progresso do aprendiz era tarefa do educador. Ao aluno cabia, apenas, o papel de ouvir e obedecer.
Chegamos à fase pré-vestibular com todos os receios e anseios da adolescência, esperando pelo prometido “ensino superior” e nos deparamos com uma continuidade dos ensinos fundamental e médio. Fomos obrigados a nos ajustar, novamente, a programas pré-definidos pelos professores e a memorizar conteúdos para fugir das temidas DPs. Agora com os títulos rebuscados de Mestre, Doutor e PHD, o ambiente continuava a colocar o professor como figura inalcançável, o que transformava um simples questionamento num ato de coragem.
O processo que classifica como “indisciplinados” os alunos que defendem seus propósitos e “bem sucedidos” os estudantes passivos, tem colocado nossa inteligência em segundo plano, ignorado nossas experiências e desestimulado nossa criatividade. No final do curso, resta ao aluno, apenas, um pedaço de papel com o título de especialista e a surpresa de que não está preparado para o mercado de trabalho.
Esta situação se repete há anos e são muitas as instituições tradicionais – tanto de graduação, quanto de pós-graduação – que resistem às mudanças que beneficiariam, em primeiro lugar, o aluno. Uma dessas mudanças é nada mais, nada menos, que a adoção de um novo modelo chamado: andragogia.
Comecemos pelo começo. A origem das palavras Andragogia e Pedagogia é grega e diz muito sobre estas ciências. Andragogia deriva das palavras andros (homem) + agein (conduzir) + logos (ciência), e quer dizer “ciência de educar adultos”. Já o conceito de Pedagogia deriva dos termos paidós (criança) + agein (conduzir) + logos (ciência), se referindo, então, a “ciência de educar crianças”.
Adultos e crianças são diferentes. E não é preciso de muito para saber que a forma de educar estes seres ímpares também deve ser diferenciada. De acordo com o psicólogo educacional, pós-graduado em Psicopedagogia, Rafael Petrilli, “enquanto as crianças precisam aprender a socializar e a desenvolver suas habilidades psicomotoras, os adultos buscam por aprendizado de acordo com suas necessidades cotidianas”.
A pedagoga Gisele Cordeiro afirma que “as crianças tendem a aceitar tudo que é transmitido pelo professor, pois é na sala de aula o seu primeiro contato com o mundo. Em contraponto, os adultos já possuem experiências de vida que devem ser consideradas no processo de aprendizado”.
Para a pedagoga, as principais dificuldades encontradas na educação de adultos estão nos métodos, práticas didáticas e professores sem capacitação: “Enganam-se os professores que alegam maior facilidade na didática para alunos adultos. É preciso ser capacitado para que as experiências de cada aprendiz possam ser respeitadas e individualizadas. Com bagagem de vida, as vivências dos adultos podem ajudar ou dificultar o momento do aprendizado”.
Não há como negar que nós, adultos, somos seres complexos cheios de peculiaridades que interferem em todas as nossas atividades cotidianas, inclusive no processo de aprendizado.
Precisamos, neste caso, de uma filosofia educacional específica que atenda a essas características. E é a Andragogia que atua como solução para esta necessidade.
Diferente da Pedagogia, a Andragogia tem o aluno como sujeito do processo de aprendizado. Ela baseia-se na concepção de que o aprendiz adulto é um ser capaz, autônomo, responsável, dotado de inteligência, consciência, experiência de vida e motivação interna. De acordo com o modelo desenvolvido por Malcolm Knowles na década de 70, o processo é fundamentado nos seguintes princípios:
Necessidade de conhecer: O processo de aprendizado adulto acontece, na grande maioria dos casos, através da necessidade. Os adultos conhecem suas necessidades e se interessam pelo aprendizado que mostre, de maneira prática e imediata, quais ganhos eles terão no processo.
Autoconceito do aprendiz: O adulto tem autonomia para decidir quando, como e o que quer aprender e sente-se capaz de buscar o conhecimento que necessita, inclusive sem ajuda do professor. Neste sentido, ele quer ser tratado como alguém capaz de se autodirigir.
Papel das experiências: As experiências do adulto são a base para seu aprendizado. São os erros e acertos de sua vivência os responsáveis pela construção de sua identidade e maturidade psicológica. As experiências também são os motivos pelos quais os adultos reagem de formas diferentes perante situações idênticas, portanto, técnicas que reconheçam estas diferenças precisam ser consideradas no momento de aprendizagem.
Prontidão para aprender: O adulto está pronto para aprender quando a proposta de aprendizado condiz com suas necessidades. Por este motivo, é preciso que o curso seja relevante e contribua com a solução de problemas reais.
Orientação da aprendizagem: O adulto é imediatista. Ele prefere aprender sobre assuntos que terão algum significado e utilidade em sua vida no agora. Diante disso, o conteúdo não precisa, necessariamente, ser organizado pela lógica programática.
Motivação: Os adultos são motivados a aprender por sua tendência a atualização, sua própria vontade de desenvolvimento, sua autoestima e realização pessoal.
Aula de MBA de Compras. Sala cheia. Alunos graduados com, no mínimo, 7 anos de experiência no mercado. O professor entra em sala e propõe o tema da aula: Matemática Financeira. Apresentar um tema considerado básico como este para uma sala cheia de profissionais com vivências corporativas seria um tiro no pé se não fosse por uma coisa: o método andragógico.
A situação acima foi uma das responsáveis pela construção de um método de aprendizado focado em resultados. O professor e superintendente de planejamento educacional na Live University, Alex Leite, explica o case:
“Nós tivemos uma preocupação muito grande quando fomos ensinar matemática financeira para a pós-graduação. Alunos de MBA chegam à universidade com a concepção de que sabem aplicar a matemática em suas rotinas. No entanto, a verdade é que eles não sabem, de fato, utilizar esta competência a seu favor. Qual foi a nossa sacada? Ao invés de dar uma aula teórica, resgatamos o princípio andragógico de necessidade e imediatismo e unimos a infalível técnica de “errar para aprender”. O adulto não aceita que não sabe uma coisa até o momento em que ele faz e percebe que não consegue.
No MBA de Compras, por exemplo, o que passamos de atividade? Damos aos alunos 3 opções de fornecedores do mesmo equipamento – com a mesma qualidade. A diferença estava na forma do pagamento: um deles utilizava a técnica de venda por leasing (aluguel), outro só vendia à vista e, o último, aceitava pagamento parcelado com reajuste de acordo com o índice de infração. Pedimos, então, que escolham o fornecedor com melhor valor financeiro.
Essa atividade mostra um outro lado do processo de compras que não diz respeito, somente, ao valor final do produto. Ela faz os alunos se questionarem: Considerando que eu vá usar o equipamento por 5 anos, o que vale a pena? Alugo gastando X reais e o fornecedor garante manutenção? Pago à vista para ganhar um desconto maior, mas corro o risco de prejudicar o caixa da minha empresa? Pago parcelado e lido com os altos e baixos do reajuste? É percebendo a complexidade do caso que os alunos – que até então não tinham o interesse em aprender - vão, automaticamente, passar a se interessar pelo conteúdo.
Se trabalhássemos com uma turma de finanças geral – como a maioria das universidades tradicionais faz – o curso seria genérico. Seriam poucos os alunos que conseguiriam adaptar os conceitos às suas realidades de mercado. Por quê? Pois o conceito de andragogia diz que o adulto só aprende aquilo que interessa. E o aluno só se interessa pelo que acontece em seu dia-a-dia.
O processo andragógico é utilizado desde o momento de estruturar o método até a forma com que os professores ministram a aula. Adultos não aprendem com palestras. O professor é orientado a interagir, abrir discussões e integrar o contexto destes profissionais à aula. São os alunos os responsáveis por dar exemplos e gerar o insumo da aula”.
Já ouviu falar na pirâmide de aprendizagem de William Glasser? De acordo com o psiquiatra americano, nosso aprendizado acontece 10% quando lemos, 20% quando ouvimos, 30% quando observamos, 50% quando vemos e ouvimos, 70% quando discutimos com outros, 80% quando fazemos e 95% quando ensinamos. Diante disso, a pergunta é: Você, aluno, prefere aprender 20% ouvindo ou 80% praticando?
O Brasil possui excelentes universidades. O problema é que a grande maioria destas instituições têm seus esforços voltados a ensinar teoria. Elas te darão um nome no currículo mas não vão, necessariamente, fazer você aprender, praticar e gerar resultados.
Alex afirma: “Já temos de lidar com barreiras que nos impedem de colocar em prática o que nos foi ensinado, tal qual a mudança da base condicionada de comportamento individual, bem como o desafio da cultura organizacional do lugar onde você trabalha. Diante disso, procurar uma universidade que te entregue 20% de aprendizado é piada”.
Segundo Alex, o motivo para optar por uma universidade pautada em andragogia é um só: “Se você quer aprender na prática a fim de gerar resultados no trabalho, uma universidade com métodos andragógicos é sua melhor escolha”.